Nascida em Natal, Capitania do Rio Grande do Norte, no dia 12 de agosto de 1787, oriunda de uma família religiosa, Clara Castro partiu ainda jovem para a Capitania de Pernambuco, onde quatro dos seus vocacionados irmãos ingressaram na Santa Igreja Católica e seguiram o sacerdócio, tendo maior notoriedade Miguel Joaquim de Almeida e Castro, o Padre Miguelinho.
Clara Castro teve uma vida pacata em
Olinda, onde residiu na mesma casa de seu irmão mais célebre. Presenciou e
viveu a efervescência dos dias anteriores da revolta que estava por vir.
No dia 06 de março de 1817 eclodiu uma
revolução que mudaria a vida de todos e o rumo do país, que ficou conhecida como
Revolução Pernambucana de 1817 ou Revolução dos Padres, devido a participação
de várias figuras do clero nesta insurreição. Dentre eles, o norte-rio-grandense
Padre Miguelinho, um dos cérebros do movimento de cunho liberal/republicano,
que tinha o escopo de libertar o Brasil e torná-lo independente de Portugal.
Após obtenção de êxito, os rebeldes
formaram um governo provisório e outras capitanias nordestinas aderiram ao
movimento, são elas: Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e Piauí, bem
como a Ilha de Fernando de Noronha. Emissários foram designados para
conseguirem reconhecimento em outros países (Argentina, Inglaterra e Estados
Unidos) à nova nação que nascia. Era o primeiro governo republicano
genuinamente brasileiro.
Aos poucos as capitanias revoltosas
foram caindo e as duas que obtiveram uma tomada total do poder foram Paraíba e
Rio Grande do Norte (liderado por André de Albuquerque), que seguiram o mesmo
destino das demais.
No
momento mais dramático da Revolução de 1817, durante a queda da Capitania de
Pernambuco e o avanço das tropas realistas, os revoltosos fugiram para tentar
mais um foco de resistência e salvar suas vidas. Inesperadamente, na noite de
20 de maio, surge na casa de Clara Castro o Padre Miguelinho, que tomou esse
rumo para destruir todo e qualquer documento comprometedor que poderia implicar
todos os partícipes da insurreição.
Ocorre que Clara Castro era uma
predestinada, e com doçura aceita a missão dada por seu amado irmão. Com os
olhos cheios de lágrimas, que aos poucos escorrem no seu cativante rosto,
Miguelinho a consola e teria dito: “Mana, estás órfã dos meus cuidados, tenho
preenchido os meus dias; não tardarão em vir buscar-me para a morte”.
Completou: “Nada de choros aqui; entrego-me à vontade de Deus, e nêle te dou um
pai que não morre. Ajuda-me a consumir estes papéis que podem comprometer
tantos desgraçados”.
Como fora supracitado, o heroísmo não
está apenas nas mãos de homens valentes e armados, mas em pequenos gestos que
mudam o rumo de uma nação. Neste contexto, juntamente com Padre Miguelinho,
Clara Castro, num gesto de companheirismo e abnegação, queima toda a papelada
que levariam à morte centenas, quiçá milhares de compatriotas.
Em pouco tempo os monarquistas
adentraram em sua casa e os prenderam. O destino previsto por Miguelinho foi
duro com o homem que se fez uma das estrelas do movimento emancipatório. Pouco
depois, após sua prisão, Miguelinho foi martirizado (12 de junho daquele ano).
Já Clara Castro, além de prantear seu irmão, passou quase dois anos numa prisão
pernambucana. Foi, juntamente com Barbara de Alencar, uma das primeiras presas
políticas da história do Brasil.
Graças à bravura/grandeza da sua ação,
a aludida revolução pavimentou indiretamente o caminho para a Independência, e
parte dos sobreviventes reapareceriam na Confederação do Equador, em 1824.
Clara
Castro tem, portanto, seu merecido lugar entre os heróis desta nação! Embora
seja percebido que seu reconhecimento na historiografia e na sociedade seja
tímido, quase que anônimo, merece com louvor esta justa homenagem no tão especial
Dia Internacional da Mulher do ano de 2017, bicentenário da sua impavidez.
(*) Cassimiro Júnior é autor do livro
"A participação da Capitania do Rio
Grande do Norte e de Maçons Potiguares na Revolução Pernambucana de 1817".
FONTE - GANFRENTE